Periódicos brasileiros punidos por burlar o sistema de citações

Quatro periódicos brasileiros foram punidos por burlar o sistema de citações para aumentar seu fator de impacto (FI).
 
Foi publicada hoje (29.08), na revista Nature, uma matéria que revela um esquema de citações usado por revistas acadêmicas brasileiras para aumentar seu fator de impacto (FI): medida que reflete o número médio de citações de artigos científicos publicados em determinado periódico.
 
A auto citação, que compreende a citação de trabalhos da mesma revista em que o artigo será publicada, já é uma prática dita antiga e vem sido rastreada e punida pela Thomson Reuters. No entanto, revistas brasileiras tentaram burlar o sistema com o famoso jeitinho brasileiro. Quatro revistas, dentre elas a Clinics, fizeram uma combinação para que uma revista citasse artigos da outras revistas do esquema. Os editores acreditaram que o sistema não detectaria este movimento, no entanto, foram pegos em flagrante. Como punição, estas quatro revistas brasileiras terão seu FI suspenso por um ano.
 
Maurício Rocha-e-Silva, ex-editor de uma das revistas punidas (despedido após descoberta da fraude), disse à revista Nature que o plano nasceu de uma frustração criada pela fixação brasileira por FI. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) avalia cursos de pós-graduação com base nos fatores de impacto em que os estudantes publicam. Como a maioria das revistas brasileiras emergentes apresentam fator de impacto muito baixo, os estudantes buscam publicar nas que tem maior impacto e isso alimenta um ciclo vicioso. A CAPES afirmou que não levará em conta os artigos publicados pelas revistas punidas no período de 2010-12 na avaliação dos cursos de pós-graduação CAPES 2013.
 
Além das revistas, cursos de pós-graduação serão punidos com esta medida e possivelmente terão sua avaliação prejudicada e receberão menos recursos da CAPES.
 
A tentativa de burlar o sistema demonstra uma ciência doente, regida por uma rígida avaliação que leva em conta o número de publicações e o FI das revistas em que os pesquisadores publicam. Toda esta cobrança faz com que pesquisadores de todo o país entrem numa corrida por publicar um artigo atrás do outro e são forçados a “esquecer” que existe vida fora dos laboratórios, universidades e centros de pesquisa. Palestras, textos em linguagens simplificadas e utilização de outros meios para divulgar a pesquisa para um público não especialista é um hábito praticamente em extinção na comunidade científica brasileira.
 
Montemos um modelo básico de como funciona a pesquisa: A CAPES injeta dinheiro público nos cursos de pós-graduação. Os cursos de pós-graduação publicam cada vez mais artigos e em revistas de FI cada vez mais elevados. Com isso os cursos são melhores avaliados pela CAPES e recebem mais recursos para mais pesquisas e mais publicações. Parece lógico que esta engrenagem funcione, no entanto, funciona graças a recursos públicos utilizados. Então, de certo modo, a sociedade financia parte da pesquisa feita em nosso país. Segue a pergunta que os pesquisadores não gostam de ouvir: A sociedade sabe o que o pesquisador faz dentro do laboratório? Em outras palavras: A sociedade sabe como está sendo investido (ou gasto) o recurso público usado para financiar pesquisas? Todo este sistema de cobrança e avaliação desencoraja os pesquisadores a comunicarem sua pesquisa para a comunidade não acadêmica de forma compreensível. Em analogia, a ciência e sociedade brasileira encontram-se em placas tectônicas distintas e em constante afastamento.
 
“As Universidades Públicas são instituições de ensino com um importante papel social: gerar e difundir conhecimento. Isto significa dizer que as universidades públicas podem e devem contribuir para o desenvolvimento da sociedade através das pesquisas que desenvolve e dos alunos que forma, esta é sua função, é com esse objetivo que ela é mantida.” guiadedireitos.org/
 

Docentes universitários de outras cidades paranaenses também se mobilizaram no 30/08

 O dia 30 de agosto foi marcado por mobilizações de professores universitários também em outras cidades do Paraná. Em Maringá, professores e estudantes convocaram uma paralisação na UEM em defesa da educação pública e de qualidade. Eles participaram da manifestação convocada por outros trabalhadores que teve início na Praça Rocha Pombo, no centro da cidade. Clique aqui para saber mais.

Em Guarapuava, docentes universitários participaram de uma ocupação do Terminal da Fonte Passe Livre; valorização da profissão de professor; contra o PL 4330; investimentos concretos em saúde e educação; contra a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários. Clique aqui para saber mais.

Richa escolhe reitor da UEPG como novo secretário do Ensino Superior

Fonte: Blog do Esmael

joao_carlos_gomesO reitor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), João Carlos Gomes, foi anunciado há poucos instantes como novo titular da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI).

Filiado ao PSDB, Gomes vai substituir Alípio Leal — ligado ao PTB — exonerado do cargo no último dia 9 de agosto em virtude de investigações da Polícia Federal acerca de desvio de R$ 6 milhões, entre 2009 e 2011, quando ele era reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Paraná (IFPR).

O novo secretário, embora seja tucano, ocupará SETI com a chancela do deputado federal Alex Canziani.

Vasta documentação sobre a ditadura será disponibilizada na Internet

Fonte: Andes-SN

Na próxima sexta-feira (9), o Projeto Brasil Nunca Mais Digital disponibilizará na internet documentos relacionados às prisões políticas durante o regime militar brasileiro. O site onde estará armazenada toda a documentação será divulgado no ato de lançamento. Coordenado pela Arquidiocese de São Paulo, o Projeto de Pesquisa “Brasil Nunca Mais” produziu, desde 1979, um volumoso estudo. Tendo em vista o risco de apreensão do material por parte da repressão, ainda no começo dos anos 1980, grande parte da documentação foi enviada ao exterior.

Segundo informações do Grupo Tortura Nunca Mais RJ (GTNM/RJ), com o objetivo de juntar provas documentais da repressão política no país, superando a desconfiança que se criava quanto aos próprios testemunhos das vítimas, a pesquisa “Brasil Nunca Mais” (BNM) passou a estudar a repressão exercida pelo regime militar a partir de documentos produzidos pelas próprias autoridades encarregadas dessa tarefa. A análise reuniu as cópias da quase totalidade dos processos políticos que transitaram pela Justiça Militar brasileira entre abril de 1964 e março de 1979.

Os mentores do projeto, em especial a advogada Eny Raimundo Moreira e a equipe do escritório do advogado Sobral Pinto, perceberam que os processos relacionados a presos políticos poderiam ser reproduzidos. A ideia foi acolhida pelo reverendo da Igreja Presbiteriana Jaime Wright e o cardeal da Igreja Católica Dom Paulo Evaristo Arns, que resolveram comandar as atividades a partir de São Paulo. Os recursos financeiros necessários foram solicitados e obtidos com o secretário-geral do Conselho Mundial de Igreja, Philip Potter, com o auxílio de Charles Roy Harper, pastor e membro daquela entidade.

Após aproximadamente seis anos de trabalho em sigilo, a tarefa foi finalizada. A reprodução dos 707 processos judiciais consultados totalizou cerca de 1 milhão de cópias em papel e 543 rolos de microfilmes. Considerando a dificuldade de leitura e até de manuseio deste trabalho, Dom Paulo idealizou um livro resumido, operacionalizado pelos jornalistas Ricardo Kotscho e Carlos Alberto Libânio Christo (Frei Betto), coordenados por Paulo de Tarso Vannuchi. A Editora Vozes (vinculada à Igreja Católica) aceitou publicá-lo, tendo-lhe sido atribuído o título de “Brasil: Nunca Mais”. Sob o temor de possível censura ao conteúdo da obra, paralelamente foi buscada a publicação no exterior. A Editora Random House, uma das maiores dos Estados Unidos, assumiu esse encargo.

Assim, em 15 de julho de 1985, quatro meses após a retomada do regime democrático, foi lançado o livro “Brasil: Nunca Mais”. A publicação da obra mereceu destaque na imprensa nacional e internacional, e o livro foi reimpresso vinte vezes somente nos seus dois primeiros anos de vida, estando na sua 37ª edição (2009).

O ato de repatriação da documentação que se encontrava protegida no exterior foi realizado há dois anos e, agora, mais uma etapa do projeto será alcançada com a disponibilização deste vasto material na Internet. Para o GTNM, recuperando a história das torturas, dos assassinatos de presos políticos, das perseguições policiais e dos julgamentos tendenciosos, a partir dos próprios documentos oficiais que procuravam legalizar a repressão política daqueles quinze anos, chegou-se a um testemunho irrefutável.

* Com edição do ANDES-SN
* imagem Brasil de Fato