Conheça a possível estratégia do governo para não concretizar a equiparação
- Por sindiproladuel
- postado em 3 de julho 2012
- em Boletins
A Secretaria Estadual da Fazenda (SEFA) divulgou o Relatório de Despesa com Pessoal que mostra que no primeiro quadrimestre de 2012 o executivo gastou 46,89% da Receita Corrente Líquida com os salários dos funcionários públicos. O índice apresentado seria superior ao limite prudencial de 46,55%. Essa informação consta do demonstrativo da Despesa de Pessoal (Anexo I) da Lei de Responsabilidade Fiscal.
De acordo com os incisos I e III do artigo 22 da LRF, o governo não poderia propor o reajuste de 31,73% no piso salarial docente para equipará-lo ao dos técnicos de nível superior. Isso porque o Relatório de Despesa com Pessoal apontou que ao gastar 46,89% da receita corrente líquida com funcionalismo público, o governo superou o limite prudencial de 46,55%. Esse índice é um alerta de que a despesa com pessoal atingiu 95% do limite máximo para esse tipo de gasto, que é de 49% da receita corrente líquida.
Manipulação
Ocorre que para chegar nesse índice de 46,89% o governo alterou a forma de calcular as despesas para inchar o índice de gasto com funcionalismo.
1º) Em vez de deduzir 100% do valor referente ao Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) no valor da despesa com pessoal, foi deduzido apenas 75%.
2º) em vez de deduzir 100% do valor dos pensionistas, foi deduzido apenas 75%.
Essa diferença de 25% na dedução destes dois itens da despesa com pessoal fez o percentual da despesa de pessoal em relação à receita corrente líquida aumentar de 44,60% para 46,89%, ultrapassando o limite prudencial de 46,55%.
Além disso, na planilha de cálculo da receita corrente líquida, o item Compensação financeira entre regimes previdenciários apareceu com valor zerado (0,00). Este valor deveria ser negativo porque o governo envia menos dinheiro para outros regimes do que recebe de outros regimes para o PARANAPREVIDENCIA. Se esse valor não estivesse zerado, a receita corrente líquida seria maior e, portanto, o percentual de despesa com pessoal em relação a receita corrente líquida seria menor. Ou seja, além de manipular os dados para inchar o gasto com pessoal, o governo também manipulou para desinchar a receita.
É importante ressaltar que a LRF permite ao governo conceder qualquer reajuste aos servidores antes de atingido o limite prudencial, mesmo que com isso ultrapasse os gastos com pessoal acima dos 46,55. A Lei só veta a concessão de reajustes caso o limite máximo de 49% for ultrapassado.
Mesmo sabendo disso, o Secretario da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, empenhou-se com afinco desde a sua posse para alterar a base de cálculo da despesa de pessoal de modo a inflacioná-la. O objetivo dele e do governador Beto Richa do PSDB é diminuir as margens legais de recomposição das perdas históricas dos salários do funcionalismo público, e nisso, teve a complacência do Tribunal de Contas do Estado (TCE) para fazer esta manipulação.
Se o governo tivesse cumprido a promessa de enviar a projeto de lei da equi- paração salarial para a Assembleia Legislativa até 1º de maio e sancionado a lei antes do prazo para a divulgação dos relatórios de prestação de contas do primeiro quadrimestre de 2012 (o prazo legal terminou no dia 31 de maio), a equiparação já seria fato consumado, direito adquirido, e o governo não poderia mais arguir ilegalidade por ter ultrapassado o limite prudencial.
Portanto o atraso do governo no cumprimento com a equiparação prometida desde novembro de 2011 pode ter sido uma ação proposital do secretario de Fazenda Hauly para ganhar tempo, mudar a base de cálculo da despesa de pessoal e assim impedir a equiparação. A proposta original de divisão em 3 parcelas a partir do primeiro trimestre de 2012 foi aprovada pelas secretarias de Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Administração e Previdência e Planejamento, e só barrada pela Fazenda.
De qualquer modo, o próprio titular da SEFA anunciou o espetacular aumento de 15% nas receitas do Estado nos primeiros cinco meses de 2012 em comparação ao mesmo período de 2011. Esse dado abre margem para que no próximo quadrimestre (fecha em agosto) o suposto comprometimento da despesa de pessoal fique abaixo do limite prudencial, portanto, antes do prazo para pagar a primeira parcela da equiparação. Por isso, é importante que os professores se mobilizem para evitar outras manobras do governo que justifiquem de maneira mentirosa o não cumprimento da equiparação salarial.
Clique aqui e aqui para ver as tabelas do Relatório de Despesa com Pessoal divulgado pelo governo.