- Por sindiproladuel
- postado em 10 de novembro 2009
- em Artigos
O autor do plano de segurança da UEL, Prof. Pedro Marcondes, do departamento de Direito Público, não parece satisfeito com suas novas funções executivas de chefe da segurança da universidade. O Prof. Marcondes é Capitão da policia militar, graduado pela Academia Militar do Guatupê em 1974, foi delegado de policia e exerceu cargos na administração penitenciária, e a partir de 1998 é professor da UEL, atualmente na categoria Assistente. Aparentemente insatisfeito com os limites de suas funções executivas, o professor está querendo trazer para dentro da Universidade o pensamento próprio de sua Corporação de origem, a Polícia Militar.
Em entrevista à Radio Universidade FM no sábado dia 10 de março defendeu o seu plano com o argumento de que a “tolerabilidade ao crime estaria com seus parâmetros extrapolados” o que justificaria o seu plano de segurança. Durante boa parte do debate manteve-se na defesa da necessidade de dar segurança e até “qualidade de vida” aos que transitam na uel, mas, a certa altura saiu-se com a seguinte afirmação:
O que nos não podemos é permitir que a universidade por todas suas idéias de aberta e tudo mais de não coerção e não controle se deixe isto aqui como uma terra de ninguém. Alguns chegam a dizer que a policia não pode entrar no campus que não pode cercar e uma serie de posturas que chega me parecer que é uma postura arrogante. Se pretende que a comunidade universitária seja uma comunidade diferente da outra. Quer dizer, a policia pode patrulhar a sociedade, a policia pode andar na sociedade. Todas as propriedades particulares são cercadas a comunidade universitária é constituída de seres perfeitos de seres, que não precisam de controle. Parece que é uma sociedade de deuses. É uma postura arrogante inclusive discriminatória porque nos temos sim problemas aqui dentro nos precisamos sim de mecanismos de controle aqui dentro.
Neste trecho do seu depoimento, ele acaba revelando a verdadeira intenção do famigerado “plano de segurança”: CONTROLE!
O “raciocínio”, uma falácia, é o seguinte:
1. A UEL virou “terra de ninguém”.
2. A UEL não é diferente do resto da comunidade.
3. A UEL também precisa de mecanismos de controle, ou seja, policia e muros.
Primeiro: a UEL não é “terra de ninguém”. Essa afirmativa do Capitão, de que é “terra de ninguém”, pode servir de argumento para muitas atitudes arbitrárias e autoritárias, mas ela é falsa. Na UEL, a comunidade acadêmica se dedica ao estudo, à pesquisa, à arte e à cultura. As eventuais ocorrências “criminosas” são as comuns na cidade, não passam de furtos, assaltos, e do roubo de alguns carros, e, até onde se saiba, numa média muito abaixo do que ocorre fora da universidade. Os desmandos mais escabrosos são aqueles que ocorreram na alta cúpula da universidade, como os que motivaram a destituição de um ex-reitor, desmandos que alias até hoje não foram apurados, ou, problemas com marquises que caem e matam estudantes.
Segundo: a Universidade, ao contrario do que fala o Capitão Marcondes, é sim uma comunidade diferente das outras. Talvez a vivência universitária dele não tenha sido suficiente para lhe ensinar isso, mas, o fato é que esta instituição que existe desde pelos menos o ano 1200 na sua forma moderna, se constituiu em corporação autônoma precisamente para preservar a sua liberdade e a não ingerência dos poderes locais e eclesiais. (Jacques Verger, As Universidades na Idade Média, São Paulo, Unesp, 1990). De acordo com historiadores medievalistas, por diversas vezes as universidades chegaram a se dissolver e depois se reorganizar em outros lugares para escapar da ingerência externa.
Mas para não forçar o conhecimento histórico do Capitão, lembremos apenas o papel das universidades brasileiras durante a ditadura militar (1964-1985) como baluartes do pensamento livre e critico enfrentando repressões de todo tipo. Recentemente a Universidade Federal do Rio de Janeiro comemorou o episodio da invasão da Faculdade Nacional de Medicina em 1966, com a publicação de um livro “Invasão da FNM. 40 anos” prefaciado pelo seu Reitor Aloísio Teixeira. Num claro reconhecimento do verdadeiro papel da Universidade como espaço de enfrentamento do autoritarismo, do arbítrio e da opressão.
Terceiro: os “mecanismos de controle” necessários à Universidade são a pluralidade de idéias e a democracia interna. Estes são os únicos que podem coibir a transformação da universidade num instrumento exclusivo de determinada corrente política, filosófica ou ideológica. Querer instaurar qualquer outro mecanismo externo a estes constituiria uma violência contra a sua autonomia, o que deve ser rechaçado liminarmente.
De resto, o depoimento do Capitão Marcondes transpira puro preconceito. Não se pode entender de outro modo o juízo que faz ao afirmar que “por todas suas idéias de aberta e tudo mais de não coerção e não controle se deixe isto aqui como uma terra de ninguém”, declare que temos uma “postura arrogante” de “seres perfeitos, de seres que não precisam de controle. Parece que é uma sociedade de deuses”. Certamente se trata de preconceito de alguém que se identifica muito pouco com a universidade e não compartilha as finalidades dessa instituição quase milenar, cujo atributo essencial é a liberdade, liberdade que lhe permite dizer o que quiser na Rádio Universidade FM, e a nos, contra-argumentar.
