Em conformidade com as recomendações da comunidade científica e da Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos estados e prefeituras resolveram suspender por algumas semanas inúmeras atividades que envolvem circulação e aglomeração de pessoas. Essa medida visa diminuir a velocidade de propagação do Covid-19 e, assim, permitir aos sistemas de saúde se organizarem para enfrentar a pandemia.
Decerto, o isolamento social traz prejuízos – e não apenas econômicos. No entanto, ele é necessário, pois, diminuindo a curva de incidência de infecção pelo Covid-19, vidas são preservadas.
No sistema educacional, o prejuízo se manifesta na suspensão temporária das aulas, mas, nas escolas e universidades, essa suspensão é de fundamental importância para a eficácia do isolamento e, assim, para o auxílio na proteção de toda a sociedade.
Nas universidades, em razão do princípio e do fundamento legal da autonomia, a data de retorno às aulas e a utilização da modalidade Educação a Distância (EaD) são decisões de instâncias colegiadas compostas por docentes, servidores, técnicos e, no caso do Conselho Universitário, membros da comunidade externa. Por isso, essa decisão não precisa ser o resultado das pressões advindas do governo e/ou de outras instituições, mas podem ser balizadas pelos princípios que norteiam as atividades educacionais no ensino superior e, também, pelas discussões científicas acumuladas sobre o assunto.
Partindo dessas considerações, gostaríamos de lembrar que o assunto já é objeto de longa discussão. Porém, a rejeição a essa modalidade de ensino não significa o apego a uma postura passadista, incapaz de se adaptar às novas tecnologias. Significa, isto sim, compreender que as aulas em modalidade presencial ainda são uma forma muitíssimo melhor de desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem. Isto é ainda mais verdadeiro num contexto em que a maioria dos nossos estudantes chega sem a disciplina e, muitos, sem as condições habitacionais e materiais adequadas para o aprendizado em suas próprias residências.
Historicamente, a modalidade em EaD foi criada para atender às necessidades de fazer conteúdos educacionais chegarem a regiões remotas do país; regiões nas quais a educação presencial era praticamente inviável. Menos do que uma escolha, a EaD era tida como um recurso necessário em razão de circunstâncias muito específicas. De modo geral, quando não é alternativa única, a EaD é preterida pela presencial porque empobrece enormemente a experiência educacional, especialmente a fascinante e educativa experiência que é a frequência ao ambiente universitário e as ricas e necessárias interações entre docentes e estudantes e, claro, destes entre si.
Não bastasse isso, quando destinada àquele/as estudantes que têm autonomia e/ou não dispõem de alternativa, a regulamentação da EaD é complexa e possui uma série de normas relativas à formação do corpo docente, aos polos educacionais e plataformas próprias que demandam tempo e prática para serem adequadamente aprendidas e utilizadas por docentes e estudantes. Isso não pode ocorrer de modo açodado e sem as devidas orientações técnicas e pedagógicas qualificadas.
A tentativa de utilizar essa prática de modo a atender às contingências de uma situação de pandemia é uma medida desnecessária, a qual trará mais prejuízos do que benefícios àqueles que são os principais interessados no processo educacional: os estudantes.
Cabe lembrar ainda que uma pandemia tem consequências imensas sobre a população e é uma situação absolutamente única na história das gerações recentes. Nessas circunstâncias, há dúvida de que, devido à natureza da atividade educacional, docentes e estudantes estão em condições muito pouco propícias para as aulas? Isso porque, além de tudo o que já foi dito, elas demandam concentração, atenção e inequívoco envolvimento emocional. Como negligenciar isso? Por qual motivo? Em função de qual urgência que não possa ser adiada por algumas semanas?
Outrossim, mesmo nessas condições desfavoráveis, docentes têm executado as mais diversas atividades relacionadas à pesquisa, orientação de TCCs, monografias, dissertações, teses e a diversas funções burocráticas, além de muitos que estão diretamente envolvidos em atividades laboratoriais e da área da saúde, em sua maioria, em algum nível, relacionadas ao enfrentamento da pandemia e suas consequências.
Enfim, não podemos agir conforme o imediatismo de interesses estranhos aos da busca pela melhor educação possível aos nossos estudantes. Por isso, o Sindiprol/Aduel orienta os docentes a se posicionarem de modo contrário às aulas na modalidade EaD nos cursos de graduação e pós-graduação da universidade.